Valdeneis e o Parque Laje Hoje

Valdeneis Lopes - 2005-03-17 - 2005-05-02


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A exposição de Valdeneis Lopes na Pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas é ocasião para que se reflita sobre o interesse e o alcance nacionais da Escola de Artes Visuais / Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro. Já há várias décadas a Escola (mais carinhosamente conhecida simplesmente por Parque Lage, em função de sua esplêndida localização em meio ao enorme jardim homônimo) vem-se destacando como uma das principais instituições formadoras de artistas no cenário cultural brasileiro. Não são poucos os alunos de outros estados que buscam a EAV, em função do prestígio de seus professores e seus cursos, e nem são poucas as solicitações que nos chegam para que nossas equipes organizem seminários e oficinas nas mais variadas regiões do País. Evidência, sem margem de dúvida, de que o interesse pela arte contemporânea e seus problemas não são privilégio do eixo Rio/São Paulo, como se costuma alegar sem muita consistência.

Por outro lado, esta mostra demonstra principalmente o empenho de uma aluna da EAV em se debruçar sobre as questões mais atuais da arte, refletindo o perfil didático da Escola, voltada não só para a pintura (embora a grande maioria dos estudantes lá ingresse preocupado com o “ofício do pintor”), mas da atividade artística em geral, que está bem além de simples técnicas e meios. Em primeiro lugar, nota-se no percurso de Valdeneis uma vontade de organização crescente, de um informalismo bastante pessoal para um rigor mais objetivo e próprio à pesquisa formal. Daí a restrição progressiva que se observa da exuberância dos trabalhos mais antigos até a simplicidade dos mais recentes, quer no que diz respeito à forma, quer no que diz respeito à cor – um caminho que vai da expressividade caprichosa em direção à reflexão sobre os problemas de construção da pintura.

Em segundo lugar, há a preocupação de Valdeneis em não se limitar apenas à superfície da tela, mas de estender os resultados de sua reflexão a situações tridimensionais: os seus “livros”, por exemplo, que levam adiante a idéia de objetividade do material artístico. Toda obra de arte começa por ser alguma forma de matéria trabalhada, e toda matéria ocupa lugar real no espaço (já há muito sabemos que a planaridade da pintura existe apenas em teoria). Ainda, seus livros pressupõem, ao contrário de uma pintura convencional (cujo fundamento é tão-somente a “contemplação”), a possibilidade de manipulação direta do objeto artístico pelo espectador, estabelecendo assim uma outra relação, ativa, entre o público e a arte.

Trata-se de um percurso de reflexão estimulado na EAV, em oposição à insistência hoje não muito bem vista no simples “fazer”, que, quando encontra eco nos resultados dos estudantes, como é o caso de Valdeneis, torna-se uma recompensa com a qual todos da Escola contamos.

Reynaldo Roels Jr.

É Diretor da Escola de Artes visuais do Parque Lage