Ser ISTO

Heway Verçosa - 2015-04-16 - 2015-05-29


- Atualizado em

Heway Verçosa. Estamos diante dele sem apresentações formais. Aliás, qualquer tipo de formalismo é o que o artista e sua obra realmente não têm. Liberdade seria a palavra. Desde que se percebeu “gente”, empreendeu a construção de seu próprio quarto simbólico na arte usando o que chegasse às mãos. É o seu micromundo que o move a criar e criar e criar. Incansavelmente. E é o espaço íntimo do artista que se mostra por meio de sua obra em Ser Isto.

Não é preciso aprofundar o olhar para encontrar uma interseção entre o mundo interior e exterior esboçada nesse trabalho e que se desfaz de aprisionamentos técnicos ou estilísticos. O artista não se desprende da matéria para criar, muito pelo contrário, ele a usa desapegadamente para exaurir seus sentimentos. Sua pintura, desenho, fotografia, colagem e escultura se misturam para se reinventar sem previsibilidade. Materiais simples ganham status de obra de arte e suportes tradicionais se reelaboram nesse trabalho. O que inegavelmente se revela é uma pressa incontrolável por fazer.

A inquietação compulsiva de Heway é o que parece mover as intrigantes contaminações de suas superfícies; do papel ao tecido e do arame ao barro, não há restrições e confinamentos. Qualquer material, suporte ou técnica utilizado por ele tem algo em comum: a desconstrução do figurativo e a incerteza do que virá em seguida. O seu desapego às referências seguras, embora reconhecíveis na história da arte e que o influenciam sem sombra de dúvidas, nos faz olhar mais atentamente para a poética dessa obra. Aí está a sua força inegável. Cada gesto, traço, pincelada e ranhura expõe um universo interno em conflito que pergunta e não responde.

É essa condição de existir em conflito perpétuo, delimitada pela fragilidade da própria existência, que nos permite aprofundar o conteúdo de Ser Isto. O artista aqui escorre em sua obra. Não se protege nela, se faz a partir dela. Se buscarmos a narrativa, ela estará na inconstância e na desordem desse caos inventivo que aglutina elementos simbólicos em cada uma das obras. O jovem artista nos provoca a sair da quietude para a incerteza, olhando para a condição humana com a poética de sua alma em constante processo artístico.

Karla Melanias

Curadora