Salão do Acervo Prof. Aloysio Galvão
Vários Artistas - 2018-11-29 - 2018-12-31
- Atualizado em
Fazer curadoria de um acervo artístico como o da Pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas (PINA, como carinhosamente é chamada) implica ressaltar os valores de uma coleção com mais de três décadas de trajetória, e, principalmente, reconhecer as vicissitudes institucionais e iniciativas coletivas que determinaram a constituição desse patrimônio, muito além da dimensão individual das obras, das perspectivas subjetivas dos artistas e suas motivações de criação.
De imediato, cabe assinalar o enorme mérito ético de um conjunto formado, em grande medida, pela iniciativa e boa vontade de artistas que doaram e doam seus trabalhos para fins culturais públicos, bem como o empenho da equipe institucional em preservar esse legado, driblando as adversidades técnicas, a ausência de recursos financeiros e a precariedade das políticas de aquisição e manutenção de coleções públicas no Brasil. Nesse contexto, a curadoria, enquanto exercício crítico de análise e seleção de obras para compor uma mostra de longa duração, teve metas que vão além da disposição de objetos no espaço da galeria. Buscou-se identificar momentos singulares e especificidades na história local, contextualizar circunstâncias na construção de valores culturais regionais e fomentar diálogos com outros cenários artísticos que permitam redimensionar os alcances da produção alagoana.
Portanto, a presente exposição é um recorte que não esgota as diversas possibilidades que a coleção com mais de 170 objetos oferece.
Através de, aproximadamente, um terço dos trabalhos existentes no acervo da PINA, a mostra foi organizada em quatro grandes grupos independentes, porém, inter-relacionados, que potencializam a arte como denominador comum da comunidade alagoana, visando contribuir tanto para a ampliação do conhecimento e da fruição artística dos iniciados, quanto fomentar a descoberta de novas referências culturais para o público leigo.
O primeiro grupo focaliza os primórdios da coleção da PINA, privilegiando exemplos de pintura figurativa que se distanciam do fazer mimético, destacando temas além do folclórico e anedótico, às vezes conjugando visões metafísicas e surrealistas. Nesse grupo se incluem, sem hierarquias, a produção de alguns dos artistas fundadores da coleção, tanto aqueles que contaram com formação acadêmica, bem como artistas autodidatas mais influenciados pelas referências da arte popular.
O segundo grupo, com expressões de diferentes técnicas bi e tridimensionais, se concentra em torno dos artistas alagoanos vinculados ao grupo do Parque Lage do Rio de Janeiro e integrantes da chamada Geração 80. O recorte abrange obras de criadores de alcance nacional, desde o campo da abstração à vanguarda mais politizada do Nordeste, bem como artistas de consolidada trajetória regional que foram seminais para a formação do atual cenário artístico alagoano.
O terceiro grupo apresenta trabalhos de diferentes técnicas que, de modo geral, são perpassados por questões sobre o corpo como tema e suporte, ou que abordam a premência da matéria na pesquisa artística. O leque de obras do conjunto permite conexões e desdobramentos que implodem as fronteiras das categorias tradicionais da arte e estimulam leituras muito além do factual.
Finalmente, no quarto grupo são reunidos vários exemplares de pesquisas contemporâneas fortemente marcadas pelas técnicas de fotografia e vídeo, mas que tensionam a noção de unicidade do objeto artístico ou as possibilidades de reprodutibilidade aparentemente infinitas de seus suportes.
Então, diante desse amplo espectro, sejam bem vindos ao acervo e mergulhem nas leituras e reflexões que todas estas obras e artistas nos oferecem.
Alejandra Muñoz
Curadora