Refrações - Arte Contemporânea Em Alagoas

Celso Brandão, Francisco Oiticica, Renata Voss, D - 2010-03-30 - 2010-05-28


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Refrações Arte contemporânea em Alagoas

Não poderiam ser poucos os desafios envolvidos na concepção de uma exposição de caráter panorâmico – e geracional – como esta que aqui se apresenta, e que assumiu a tarefa, lançada pela Pinacoteca da UFAL, de gerar uma síntese dos últimos dez anos da arte contemporânea alagoana. Mais adiante, quando os olhares que pensam a mostra são estrangeiros, esses desafios se expandem e, para contorná-los, é preciso assumi-los em toda sua complexidade, transformando dificuldades em estratégias de ação.

Nesse sentido, Refrações – arte contemporânea em Alagoas busca fazer reverberar algumas das questões mais instigantes que perpassaram o processo de sua elaboração: a aproximação a um campo que não nos era familiar; a necessária – e, infelizmente, rarefeita – relação com a história da arte local; o diálogo com os paradigmas estéticos ditos internacionais; o estabelecimento de recortes curatoriais, e a sempre insistente dificuldade da síntese.

Foi assim que, durante as quatro viagens de pesquisa que realizamos (e por entre as dezenas de artistas visitados), compreendemos que a principal contribuição ao debate crítico local não se daria exatamente na seleção – e consequente legitimação – de um amplo conjunto de artistas que pudessem conformar um panorama quantitativo, mas nos diálogos que, pautados em nossas observações estrangeiras, poderiam ser deliberadamente promovidos a partir de um conjunto mais pontual de artistas convidados. E esses diálogos, por sua vez, não poderiam ingenuamente perder-se na tentação da vã apologia à novidade que ronda as mostras de “jovens artistas”, ignorando a história que, no Brasil, paulatinamente mais incomum enquanto esforço teórico e curatorial, se torna por isso mesmo cada dia mais urgente.

Ampliando os limites temporais deste panorama, desobedecemos as habituais demarcações geracionais para trazer, lado a lado com os artistas que se consolidaram com a chegada do século XXI, também artistas cuja atuação remonta aos anos 1970 e 1980, e cujas obras reverberam, hoje, nos trabalhos dos “jovens artistas” que desta exposição participam. Contudo, no embate com as obras de Celso Brandão, Delson Uchôa, Martha Araújo e Rogério Gomes, esses 13 artistas não operam necessariamente por reflexão. O encontro aqui proposto não se quer homogeneizador, mas problemático. Que distintas soluções, perante interesses e preocupações similares, têm os artistas dos anos 2000 conseguido estabelecer face às gerações anteriores? Desejamos que o espelhamento aqui proposto possa sublinhar desvios: respostas particulares aos novos desafios – dentre outros, também aqueles estéticos – que vão atravessando as andanças do tempo. É que, parece-nos, os raios de luz da incandescente Alagoas já conquistaram o direito a serem surpreendentemente refratários.

Bitu Cassundé e Clarissa Diniz Curadores

Período: 30 de março a 29 de maio de 2010.