Portal Da Memória

Exposição Conjunta - 2012-08-01 - 2012-09-06


- Atualizado em

“... As pessoas do nosso tempo sofrem por não serem capazes de possuir o mundo de maneira suficientemente completa... é necessário ir buscá-lo.”

Albert Camus

Portal da Memória

A arte é uma linguagem que, sendo expressa de diferentes formas, exige do homem sua integridade física, ética, imaginativa e reflexiva. O quer por inteiro ao tratar da relação dele com a natureza, com seus semelhantes e com a interatividade entre ideia, conceito, forma, sentimento e comportamento. A obra de arte não se refere apenas a ela mesma, mas incide sobre o homem sujeito social, cultural e histórico, chamando-o a refletir sobre os diferentes papéis que lhe cabem, decorrentes de cada um desses estados e dos seus consequentes interrelacionamentos. Essas verdades são indispensáveis a uma vida responsável. Um exercício intencionalmente concebido, além de propiciar a busca de acervos arquivados na memória, facilita confrontá-los com novas conexões cognitivo/afetivas, permitindo diálogo criativo e crítico entre a realidade pretérita e a imersão proposital, ou não, em realidades atuais. Ddaniela Aguilar, Rogério Gomes e Vera Gamma vivem esses parâmetros referenciais ao buscarem entender como a prática que promoveram na Comunidade do Verde, em Jaraguá-Maceió, interferiu sobre os seus momentos presentes, vínculos artísticos gerando princípios importantes e novos, no processo evolutivo do trabalho de cada um deles. Conscientes da diferenciação de seus léxicos, mesmo quando desenvolveram juntos, exercícios didáticos a fim de conferir suporte ao trabalho com as crianças e os adolescentes, foco do projeto Esta Rua é minha – Esta rua é nossa. Assim, seguiram priorizando processos individuais, cujos produtos refletissem resultados conceituais inovadores, articulados a objetivos recém-descobertos, porém constantemente atentos à presença visível ou tênue de situações orgânicas, psicológicas e intelectuais, cujas consequências demonstrassem a condição singular da passagem pela experiência vivenciada no Galpão 72. A singularidade na linguagem expressiva, propriedade de cada artista, as escolhas relacionadas ao comando de suas vidas e seus resultados consequentes, apresentaram situações similares ou antagônicas, complementaridade, distanciamento, contextualidade uníssona ou dissonante, resultados que podem ser vistos nesta exposição e devidamente analisados pelo espectador. Houve um esforço racional no sentido de intercambiar as dimensões cognitivas, estéticas e poéticas das obras no contexto – black box – tendo como elementos para auxílio da inevitável leitura, além da cor e do lançamento do livro Esta rua é minha – Esta rua é nossa, o repertório de questões orgânicas, éticas, políticas e culturais, radicais aos artistas. Considere-se, também, o condicionamento espaço/temporal aos quais eles foram submetidos, cuja instância pode explicar a possibilidade instigante de um todo “coorporativamente” inseparável, e assim, a ideia de mais uma exposição conjunta.

“...Caminha-se por vários dias entre árvores e pedras... O pântano anuncia uma veia d’água; a flor do hibisco, o fim do inverno, o resto é mudo e intercambiável. Árvore e pedra são apenas aquilo que são...”

Ítalo Calvino

Sala 1

Vera Gamma

Percepção do Passado

Recuperar a memória significa gerar novas possibilidades para redimensionar o futuro. As lembranças oferecem meios eficientes capazes de vincular o ambiente que cerca o indivíduo. Elas oferecem recursos para a construção de uma história repleta de transformações e conquistas. Orientam mudanças radicais na configuração existencial, na formação de ideais e conceitos. Asseguram a extensão de um olhar renovador àquela paisagem velha e sem viço. Uma promissora passagem para o lado desconhecido, apenas intuído e, então, perseguido com coragem.

“... Compreender que o empenho de modelar a matéria incoerente e vertiginosa de que se compõem os sonhos é o mais árduo que pode empreender um varão, ainda que penetre em todos os enigmas da ordem superior e da inferior. Muito mais árduo que tecer uma corda de areia ou amoedar o vento sem rosto...”

Jorge Luis Borges

Sala 2

Ddaniela Aguilar

Transcender a Memória

O homem carrega consigo sonhos que sempre estiveram à margem de desejos mais prováveis. Eles são intensos e prontos para despertar um dia. Quando isto acontece, esses sentimentos, tanto tempo silenciosos, transformam-se em consciência precípua, determinante força geradora de movimentos de mudanças, principalmente se a memória é a energia propulsora nesse contexto. São momentos nos quais portais se abrem transformados. Assemelham-se às lágrimas de crocodilo ou bolhas de sabão. E a vida, leve e frágil, lança-se ao éter. Celebremos.

“... Deixa que a ave descanse da migração tão longa ou da ferida na asa. Deixa, que em breve alçará voo do papel branco e deixará as marcas de suas pegadas ou filetes de sangue no desenho das palavras.”

Maurício de Macedo

Sala 3

Rogério Gomes

Marcas da Passagem

O som do “Big-Bang” ainda ecoa deslocando-se pelo espaço além de nós. Semelhante, a memória, aquela faculdade humana de reter e mensurar ideias, impressões e conhecimentos, operacionaliza-os. Sugados pelas ondas magnéticas do cérebro são codificados e decodificados, infinitamente, sem perder o mágico momento de sua gênese. O passado, então, torna-se perene. Imprime uma marca indelével, independente do tempo consumido para sua realização, da natureza física, política ou psicossocial da ação, do movimento, da intensidade e dos meios que a deflagrou em determinado instante e lugar.

Sobre os artistas

Ddaniela Aguilar

Nasceu em Governador Valadares, Minas Gerais. Em 1992 conclui licenciatura em Educação Artística na Escola Guignard, em Belo Horizonte. Desde então vem trabalhando obsessivamente com materiais pós-consumo, resíduos e refugos industriais aplicados em áreas artísticas diversificadas, isto é, estamparia, design têxtil, ilustrações de livros infanto-juvenis, pinturas e desenhos, esculturas e objetos. Conscientemente experimentalista, persiste em continuar aperfeiçoando seus conhecimentos e técnicas frequentando diferentes cursos em universidades dentro e fora do país. Atualmente mora em Barcelona, Espanha onde, além do mestrado na universidade autônoma, executa uma série de obras especiais e dar continuidade ao projeto “Sonho Mutantes”. Realizou um extenso número de exposições no Brasil e no exterior.

Rogério Gomes

Nascido em Anadia, Alagoas, estudou arte em Maceió com Lourenço Peixoto e no Rio de Janeiro com Ivan Serpa no MAM. Em 1966 graduou-se em Pedagogia pela UFAL. Posteriormente fez especialização em linguística na USP e tornou-se Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia. Fundou a Pinacoteca Universitária em 1981 ocupando sua direção em dois períodos não consecutivos, ficando no cargo até 2004. Desde 1968 vem trabalhando incessantemente desenvolvendo um extenso e diversificado campo experimental composto de desenhos, pinturas, esculturas e colagens. Prioriza ultimamente instalações, geralmente em larga escala, que refletem sua visão particular do mundo influenciada por um olhar analítico das múltiplas cidades que regularmente visita em diferentes partes do planeta. Entretanto parte sempre das contingências de Maceió local onde vive. Esteve presente numa série de exposições – coletivas e individuais -. É convidado com frequência para palestras e curadorias. Existe no mercado significado número de documentários e livros relacionados ao seu trabalho.

Vera Gama

Natural de Maceió, Alagoas é arquiteta graduada pela Universidade Federal de Alagoas. A partir de 1989 vem desenvolvendo experiências com materiais diversificados priorizando o papel machê para elaboração de objetos e esculturas. Descobriu uma técnica exclusiva na qual estão incluídos refugos industriais e papel Kráft, pousados em suporte de madeira e metal. Artista multimídia trabalha com desenho, pintura e colagem oportunizando o uso de papelão, resinas acrílicas e acetato superpostos em camadas sobre o ferro, alumínio ou madeira. Tem realizado exposições em Galerias e Museus de Maceió, São Paulo e Rio de Janeiro. Atualmente vive e trabalha em São Paulo.

Período: 01 de agosto a 6 de setembro de 2012.