Pássaros

Fernando Pontes - 2011-07-28 - 2011-09-02


- Atualizado em 20/03/2025 17h58

Pássaros

Pássaros, por onde eles passam nosso olhar os acompanha. “Pássaros” é o título deste ‘voar’ de Fernando Pontes entre paisagens e imagens, que se diga, das memoráveis lembranças do passado aos dias atuais, perpassando pela memória de cada um de nós como páginas da história, a nossa história, a história das cidades. A mostra visual que Pontes nos oferece tem o ar intimista de um artista que busca nos referenciais históricos da sua terra natal os sinais, ou índices, da grande reestruturação pela qual os centros urbanos do Brasil vem passando. Diante das fortes marcas de degradação das metrópoles, o artista não passa incólume por essas paisagens urbanas. Sua visão parece apreender além do olhar de um cidadão comum que por ali transita todos os dias, de quem faz da rua, ambiente por vezes hostil, o meio de sobrevivência, ou, simplesmente de um passante em seu automóvel de luxo que utiliza a via urbana como um “canal” de passagem, apenas.

Nesta mostra cujo título nos remete ao tempo, ‘passar’ como o verbo que nos indica e informa o movimento, e, ‘pássaros’, substantivo comum que nos remete ao segundo movimento desta ação, tem uma função de ALERTA, uma advertência pelos nossos atos contemporâneos neste processo de crescimento das nossas cidades. Neste caso, a arte entra como meio, como ação mediadora entre o olhar sensível do artista, o transeunte do cotidiano e a cidade referência na qual fez-se da infância o momento pleno dos registros visuais, memoráveis registros. Nas lembranças de Fernando Pontes, permeiam as caminhadas até a praia acompanhado de seu pai, passando pelo riacho ‘Salgadinho’; a pequena estátua do “mijãozinho” localizada em praça pública; a visão dos pássaros que sobrevoavam a cidade naqueles anos, todos, hoje quase desaparecidos.

Neste grande canal de absorção dos índices e signos, o artista não vive apenas de lembranças do seu passado, mas, sobretudo, da transgressão, da transferência da informação e, da contestação. A mostra “Pássaros” assume muito bem esta função: alertar para este processo degenerativo dos grandes centros urbanos do Brasil; nos dizer que não poderemos sobreviver das ilusões de um progresso sem planejamento adequado, que as memórias precisam ser preservadas e que as cidades são, na sua maioria, o grande referencial histórico das civilizações.

Portanto, se faz parte das lembranças rememorar pássaros voando em deliciosos rasantes sobre as areias da praia, é bom poder dizer, em um futuro desejável, que o riacho “Salgadinho é bom demais”, ou, “Salgadinho is very nice”.

Finalmente, Pontes, trabalhando de forma especial o obturador da câmera fotográfica, nos apresenta uma série de imagens que traz a luz de sua cidade natal para o plano do abstrato e das indefinições de espaço e tempo. Com belas capturas noturnas, que se estendem de um percurso dos arredores de Maceió à praia de Pajuçara, este conjunto de imagens provoca no espectador a sensação da saudade, do romântico, da tranquilidade do passado e, sobretudo, do desejo de resgate de um tempo que não volta mais. Então, nas impressões de Fernando Pontes, a luz se transforma em um risco gráfico carregado de memórias.

Edgard Oliva Artista Visual e Curador.

Período: 28 de julho a 02 de setembro de 2011.

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