Passagem
Renata Voss - 2015-09-30 - 2015-11-13
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Estar aqui, ali e acolá, momentos de conquista ou perda, impulsionam as experiências do deslocamento, arrastando marcas e sensações para dentro do nosso corpo. Quando sentimos a necessidade de guardar algo da experiência para rever, logo desenhamos, pintamos ou escrevemos. A fotografia surgiu, por sua vez, para aproximar mais ainda a experiência da pulsão escópica ao memorável. Com isso, o instantâneo fotográfico parece competir com o instante. Assim, muitas vezes tentamos refazer o instante ao olhar uma imagem e ver ressurgir um espaço-tempo.
Renata Voss, em seus procedimentos artísticos, conduz e é conduzida pelo deslocamento em imagens, que revelam acontecimentos inerentes às experiências com lugares e pessoas. Suas escolhas estabelecem um conjunto de relações com o que vemos, imaginamos ou mesmo esquecemos. Para tanto, ela recorre ao passado e resgata alguns métodos primordiais da fotografia para revelar, apresentar ou deixar desaparecer o que um dia foi apreendido pelo ato fotográfico. Trajetos, Artifício, Papódromo, Alagoas Iate Clube, Márcia, Eris, Infinito e Estudo para perder de vista são termos que Renata escolheu para alcunhar alguns resultados de sua investigação artística que vem desenvolvendo há mais de dois anos. Apresentadas nesta exposição intitulada PASSAGEM, as obras estão reunidas em dois núcleos: esfacelamentos em comunhão com o tempo e fugacidade.
Ao percebermos espaço, tempo, matéria e memória em fragmentos, num determinado momento parece acontecer uma espécie de comunhão desses agentes. Dessa comunhão, surgem imagens capazes de atuar em nossa imaginação e construir outras realidades. Para Renata, a alteração dos métodos tradicionais de uso dos equipamentos fotográficos, bem como dos modos de apresentação de suas experiências com o movimento do corpo no espaço, produz o que poderíamos chamar de esfacelamentos em comunhão, onde as resultantes desorientam nosso olhar e nos faz ver o intervalo da experiência.
Os materiais e os seres possuem uma permanência temporária, e o tempo acompanha silenciosamente as transformações inerentes à composição física e imaterial daquilo que chamamos por vida. Ao acompanhar transformações e perdas que aconteceram em sua experiência de vida, Renata seleciona cuidadosamente métodos e suportes não tradicionais da fotografia para “falar” da fugacidade. São imagens reveladas em folhas de árvores, imagens que surgem de pinceladas que definem a área a ser visualizada, ou mesmo imagens que existirão por um determinado tempo de “vida”, pois sua existência nos aproxima da lembrança e do esquecimento.
Eriel Araújo
Artista - Curador