Paisagens Gerais
Reinaldo Lessa - 2003-11-13 - 2003-12-13
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“Navegar é preciso, viver não é preciso”
Há, de imediato, uma evidência, um fato, um ato inicial, um gesto, o Verbo. Toda pintura de Reinaldo Lessa é uma paisagem encantada, um movimento, um momento, ventos e tormentas, uma explosão de um mundo novo e revigorado no qual o micro e o macro cosmos se definem e se harmonizam diante do nosso olhar.
Não esperem pretensões excessivamente teóricas, manifestos, discursos. A pintura aqui é um instrumento a favor da beleza e da sedução. Extensas áreas de cor, manchas vibrantes e poderosas, matérias densas e expressivas que se integram numa viagem de encantamentos e descobertas provocadas por essas formas e texturas aleatórias e orgânicas, espaços generosos e abertos.
Cada obra é, portanto, um mundo, um vulcão, o resultado de uma série de investidas onde o artista elabora o seu método de construção através de uma idéia que sucumbe à praxis e que se reelabora no instante seguinte para novamente ser questionada e se fazer sucessivamente... É nesse embate, nessa arena, nessa luta que a obra nasce, tensa e veloz, para se afirmar na eterna certeza das coisas belas e reais. O artista aqui é um gladiador, um combatente no qual a arte e a vida se misturam e se confundem. A pintura surge, então, como o resultado de um ato amoroso no qual o desejo, o encanto e o medo se alternam entre o prazer e a dor. Tudo aqui transpira, inspira, conspira a favor da arte, do romance, da vida. A pintura é corpo, pele e a tinta flui sobre a tela como sangue, seiva, suor, saliva, lágrima.
Avesso às teorizações e aos modismos, Reinaldo Lessa mantém-se fiel ao espírito romântico, à idéia de fazer da arte um verdadeiro instrumento de comunicação entre as pessoas, valorizando os aspectos subjetivos e emocionais. Moderno por essência, o artista aspira à transcendência, desprezando escolas e tendências artísticas e investindo numa espécie de escala de valores eternos da qualidade artística. Para isso, se utiliza de uma poética pessoal e sensível, deixando-se fascinar pela perene beleza das coisas simples e naturais e construindo uma obra de grande impacto na qual a clareza e a harmonia são os principais instrumentos de ação. Reinaldo conhece as paisagens do mundo, a vastidão dos mistérios... Ele sabe que toda paisagem é, antes de tudo, um estado do Ser e que vivê-la em toda a sua intensidade é preciso abismar-se, é preciso ouvir o canto das sereias e os barulhos do mar. É preciso navegar...
Marcus de Lontra Costa