O Passageiro da Luz
Jadir Freire - 2002-04-18 - 2002-05-15
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JADIR FREIRE
O PASSAGEIRO DA LUZ
Lentamente o barco atravessa a Baía de Todos os Santos. Salvador paira fervilhante sob o sol tropical como se em um só dia, naquele dia, absorvesse todo o percurso de uma vida inteira. A luz amarela, intensa do entardecer que chega, lentamente envolve a silhueta grandona daquele homem de barbas fartas e gestos firmes, transformando pouco a pouco o magnânimo espaço branco a sua frente em luminoso painel contendo as múltiplas cores da boa terra.
A cena do barco singrando águas baianas interpretada por Jadir Freire, poderia ter curso no Rio de Janeiro, em Roma, Frankfurt, Amsterdam ou Paris. Cidadão do mundo, nasceu na Bahia numa tarde febril que lhe marcou a inquietude, instigou a sensibilidade criativa, plasmou sua alma generosa.
Da infância e adolescência na cidade de Salvador, Jadir Freire absorveu o cromatismo intenso, as festas populares, a alegria e a dor do povo. Depois, no Rio de Janeiro, descobriu a velocidade urbana, as transformações rápidas, os modismos transitórios, estabelecendo intersecções entre a sensibilidade e a inteligência. Mais adiante em Frankfurt e Berlim foi capaz de distinguir e, ao mesmo tempo, conjugar o que faz parte da angustia e dos prazeres do homem atual e o que pertence ao universo da arte, intuindo visceralmente as perspectivas plásticas contemporâneas, sem perder seus compromissos iniciais: heranças de fatos, consciência estética, cromatismo tropical.
Andarilho por natureza, o mundo sempre lhe pareceu pequeno. Facilmente esteve em Calcutá e de lá para Maceió ou Londres, com a velocidade de um cometa, cuja brilhante luz sedimentou a construção de uma obra falando do mundo sem abandonar as citações, os signos, a cor exuberante, as afirmações sociais admitidas como acontecimentos típicos dessa gente honesta, particular que cria todos os dias uma história para contar o país especial chamado Brasil.
Essa exposição quer mostrar, também, o trânsito de Jadir Freire por Maceió durante sua breve existência. Aqui ele produziu e plasmou almas com a magnitude de seu talento, a elegância de seu traço, a inequívoca qualidade de sua arte.
Rogério Gomes.