Matéria Natural

Julieta Pontes - 2006-03-31 - 2006-05-12


- Atualizado em

INTRODUÇÃO

  A idéia chegou junto com o desejo de abstrair. Com a história da “Progressão Involutiva” - assim é como chamo esse processo - cheguei ao tema. O que motivou esse trabalho atual, foi uma profunda busca de um lugar traduzível sobre a questão da natureza da consciência e sua relação com a Matéria.

Saindo do terreno da pré-história, de idéias antropológicas e expressões rupestres, e em regressão cronológica pelo caminho da abstração, vim defrontar-me com a matéria, essa matéria puramente original de que tudo é feito: a deusa Maya de que são construídos nossos corpos e todo nosso universo físico. Detive-me a observá-la através de todos os ângulos, do micro ao macro, o que resultou num admirável encontro de nova perspectiva estética. Sem deixar de lado nossas raízes, espero poder transmitir um bom conceito de contemporaneidade.

  MATÉRIA - Uma linguagem natural.

Partindo do questionamento sobre o fator existencial de uma obra, aqui tomei como partida a matéria de que ela é feita. Discutiremos então a trilogia: tempo, essência e matéria .

O tempo como período e fator abstrato. A essência: a criação, a idéia inicial, o espiritual e a matéria: a roupagem existencial dessa idéia, ou seja, do Pensamento Criativo.

A matéria, como sabemos, em sua suposta inércia, ao contrário do tempo, induz a ordenação de elementos que interagem numa inumerável variação. Ela se torna a realização do Pensamento; é pulsante, viva, capaz de ser observada pela simples perspectiva. Falamos aqui da matéria estética por si só, da natureza de sua simplicidade, rude e harmoniosa, onde o momento maior da observação se detém na grandiosidade de sua pureza. É necessário o olhar que transpõe os limites de conceitos preestabelecidos da observação. Para se entender a Matéria, é necessário que saibamos falar a linguagem da natureza ou, no mínimo, o padrão que a une.

Essa mostra quer falar sobre o espiritual, ao contrário da concepção clássica do materialismo que reduz tudo às forças materiais, sem direito ao idealismo. Tão pouco se quer dar uma abordagem cartesiana e mecanicista da ciência. Portanto, seguiremos menos pelo caminho da lógica e mais pelo da metáfora, único caminho para se falar à linguagem da natureza. Ponho-me então, como instrumento dessa força criadora, a Memória Essencial, na tentativa de estabelecer conexão causal. A intenção é ir além do tempo real libertando-se do conhecido, como num exercício de Koans budista, onde o único mestre é a natureza. O desejo é dar a essa idéia natural e essencial uma forma tangível através da arte.

O produto dessa mostra quer fazer o contraste entre o rústico, simples e o sincero da matéria com a sofisticação da ciência.

Poder-se-ia dizer que “Matéria, uma linguagem natural” é uma tentativa de apaziguar a angústia da contemporaneidade na busca da ordenação do caótico. É o Link, o tecido conectivo. É a cumplicidade: existência e essência, através do contato com valores básicos de uma plasticidade sincera.