Jardim em Suspenso

Karla Melanias - 2016-12-01 - 2017-03-03


- Atualizado em

Decidi assumir o pó, soprando sobre o vidro areia fina da praia com minha

própria respiração. A experiência anterior ao pássaro, de criar imagens com

plantas em decomposição, transformou a opaca escuridão em brilho na

noite escura, como constelações no cosmo, a partir do meu microcosmo

onírico. Até os pássaros mortos poderiam ser contemplados no ar,

plácidos, imóveis, levitando.


(Karla Melanias)

O ar, o sopro, o pó, o voo, o sonho. O pássaro e o universo. Elementos sem vida reacendidos pela passagem de luz; ressurreição, ou melhor, ato de criação. Assim como Perséfone - deusa das ervas, das flores, dos frutos e dos perfumes, a artista passeia pelo sertão, banhado pelas águas do Rio São Francisco.

De volta dessa vegetação rasteira, traz consigo pequenos fragmentos colhidos afetivamente para compor seus próprios jardins imaginários que, à noite, se desprendem das mais diversas camadas terrestres e transcendem reluzentes no espaço cósmico ao encontro dos pássaros.

Há danças e música silenciosa, e as cores das águas mais profundas desse Rio esperam pela maturação de um tempo que reflora. A quietude das enigmáticas imagens poéticas é um convite à reflexão da existência pela experiência estética.

Maria Celeste de Almeida Wanner
Raoni Gondim