Figurações do Tempo
Maria Cecilia Barreiros - 2006-06-02 - 2006-07-14
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Figurações do tempo
Com conteúdo pictórico renovado, Maria Cecília mostra no espaço da Pinacoteca da UFAL colagens e pintura sobre tela.
Depois de uma longa temporada abusando propositalmente do abstracionismo e das cores intensas, a designer Maria Cecília Barreiros inaugura uma nova fase, na qual o conteúdo pictórico e estético dos seus quadros foi renovado. Dessa vez, utilizando tons mais suaves e uniformes, mas sem deixar de lado uma certa extravagância presente nas telas que produz. A mudança reflete um amadurecimento pessoal e profissional, no qual a ausência de formação teórica da primeira fase dá espaço a intervenções mais conscientes, que acabaram contribuindo para que a artista fosse selecionada – entre outros 15 artistas – para expor na Pinacoteca da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
O resultado dessa verdadeira metamorfose poderá ser conferido a partir do próximo dia 10 de junho, quando Maria Cecília Barreiros inaugura a exposição "Figurações do Tempo", junto com a escultora e ceramista Beatriz de Gusmão. A exposição será a segunda da artista e do espaço, que reabriu suas porta ao público em março passado, depois de ter sido totalmente reformado.
Submetidas ao Conselho Curador da Pinacoteca, as 12 telas expostas apresentam pintura e colagem, bem dentro da linha contemporânea proposta pelo espaço. Nesta nova etapa de trabalho, mais explícito, há uma clara representação de pessoas. Homens e mulheres, com seus relacionamentos, desejos e reações. A sensualidade está presente na seqüência de quadros, onde destacam-se formas físicas sutilmente pousadas, beleza, objetos pessoais, toque ou contato físico e visual entre as pessoas.
No trabalho de colagem e pintura, vale utilizar a tinta acrílica para dar ênfase a olhares, bocas, sorrisos, pés, pernas, roupas e objetos saídos de revistas e catálogos de moda, que posteriores a sua temporada, seriam descartados. "Sabia do risco de parecer fútil usando aquelas imagens, mas a intenção era gerar discussão e especulações sobre os verdadeiros significados daquelas figuras", explica. Segundo ela, a opção por tons mais suaves - predominando variações de vermelho, amarelo e marrom - revela um momento pessoal de tranqüilidade e equilíbrio.
Maria Cecília lembra que sempre gostou de usar material reciclado na composição de seus quadros. No ano passado, quando entrou em sua oficina de trabalho - montada na garagem de casa -, olhou todos os papéis e catálogos intencionalmente guardados e resolveu usá-los. "Já tinha imaginado as cores, os tons. Sentia calma. Eu precisava externar esse outro momento da minha vida", conta.
A curadoria da exposição é assinada pelo crítico de arte e professor Francisco Oiticica Filho. Ele lembra que Maria Cecília é uma autodidata que encara a atividade artística como uma experiência completa e necessária. Para ele, os quadros expostos falam de um presente regulado pelas forças de consumo, mas as pinceladas da artista sobre a tela acabam por trazer uma verve crítica que alivia o efeito da linguagem publicitária.
Na exposição, Maria Cecília diz desejar que a relação entre quadro e espectador vá além da apreciação. "O que espero é levar à fantasia. Que a pessoa ao olhar perceba um pouco do autor e um pouco de si. Tudo com técnica, originalidade e contemporaneidade".
Período: 02 de junho a 14 de julho de 2006.