Eternecer
Camilla Cavalcante e Karla Melanias - 2011-09-20 - 2011-10-28
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Submergir densamente no esquecimento e na lembrança. Transmutar o tempo. Olhar para trás, para dentro e para fora ao procurar vestígios daquilo e de quem ambiguamente esquecemos. Encontrar o que continua permanecendo, apesar da não lembrança do outro. Explorar as sinuosidades desse paradoxo.
Essa é a provocação estética que nos impulsionou para o mergulho livre, assumido por devaneios pessoais que nos fizeram trazer à tona impressões e interpretações sobre o que julgamos esquecido ou conscientemente ignorado. A fotografia que empreendemos, espectro mágico e veículo audaz do instantâneo, nos levou a (re)descobrir baús nas nossas alheias Macondos.
Visitar o limbo, aquele dos afastamentos, seja do ponto de vista emocional ou social, nos inspirou a procurar uma fotografia sem rosto que se esconde, talvez, nas camadas sobrepostas do nosso mais íntimo e, ao mesmo tempo, distante cotidiano. Nos fez enxergar o que se perde em nós. Recortamos o estático e o enfrentamos como dilatável na fotografia, personagens maculados pelo tempo e que capturamos como “surpreendente articulação do irreversível e do inacabável, estética das escolhas, a dos possíveis, a da imagem de imagens, a das metamorfoses” (Soulages).
Eternecer é a apropriação do neologismo que moveu o nosso olhar para as imagens da permanência naquilo que se decanta a cada instante. Permanecer naquilo que apenas permanece. Dizer-nos silêncio. Penetrar por um instante muito impreciso, os espaços côncavos da nossa memória.
Camila Cavalcante e Karla Melanias