Estúdio De Rua | Ruínas E Afetos Do Corpo
Felipe Camelo e Ana Rosa - 2009-07-16 - 2009-08-28
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Estúdio de Rua
Através da adoção de um olhar lançado às múltiplas superfícies da urbanidade de Maceió, Felipe Camelo realiza uma investigação sobre as identidades do lugar. Neste universo de complexidades, o foco da atual produção do fotógrafo localiza-se na interação entre a paisagem, o espaço público e seus personagens. O título da mostra procura enfatizar ao menos duas tônicas principais. De um lado, suscitar o aspecto por vezes cenográfico inerente à conjuntura da esfera pública e, por outro, manifestar uma qualidade do olhar, através do artifício da poética do enquadramento.
As ruas e as praias são narradas visualmente como os locais aonde ocorrem grandes parcelas dos jogos sociais, e onde notoriamente formaliza-se parte significativa dos valores e hábgnificativa dos valores e hos locais aonde ocorrem grandes parcelas dos jogos sociais, e onde notoriamente formaliza-se parte itos culturais da cidade. Os acordos cotidianos entre o meio e as pessoas, os lugares comuns da cultura, os resquícios e os fragmentos do inusitado e do anônimo fazem parte das miradas adotadas pelo fotógrafo.
Procurando as sutilezas, a ludicidade e a poesia na visão do todo comum da paisagem, Camelo consegue resignificar o aspecto mais emocionante da vivência coloquial do dia-a-dia: a possibilidade de descobrirmos o único, o emocionante e o estético em cada pausa das extensões visuais ao nosso redor.
Arquitetura do Corpo
O urbanismo e a arquitetura se encontram em um tempo pleno se não de contradições, ao menos interpelações, aonde a história parece não mais fornecer as respostas para uma lógica da construção do presente. Esta tem se tornado um difícil exercício para arquitetos e urbanistas, quando chamados a pensar e agir sobre o espaço contemporâneo.
Muitos dos caminhos percorridos no passado, em especial neste recente chamado moderno, acabaram por não conseguir prever o encaminhamento que atualmente encontramos no desenvolvimento das dinâmicas dos centros urbanos da atualidade. As favelas são os espaços que mais parecem permanecer enquanto o outro ou como hiato das práticas e pensamentos urbanos do presente. Voltadas muito mais a noção de abrigos fragmentários, continuamente reformulados, temporários, “aprojectuais” e rizomaticamente expansíveis, as favelas são relegadas com freqüência ao plano da não arquitetura, habitadas por outras pessoas, em lugares desenquadrados e desenquadrantes da malha urbana institucional.
Entretanto, as favelas fazem parte do real e definem instigantes transversalidades no pensar sobre a cidade ao impor-se como discursividades estéticas, econômicas, políticas e sociais.
Ana Rosa intenciona desvelar as virtualidades emocionais escondidas sob a vivência e a paisagem da Favela do Sururu. Adotando um olhar nascente na lógica do descobrimento, a arquiteta trilha percursos que investigam as formas pelas quais aquela espacialidade se torna um lugar.
Delineadas em espaço e tempo pelo corpo engajado em ações do olhar e do movimentar-se, a pesquisa artística de Ana Rosa acaba por tornar perceptíveis os processos culturais que estão envolvidos no cerne da humanização do próprio espaço daquela ambiência.
Neste sentido, verificamos que as relações entre a existência humana e os espaços imbricam-se intimamente com as dinâmicas identitárias dos lugares. É neste processo de humanização que o espaço da favela ganha sentido, transubstanciando-se em lugar: ao correlacionar proporções aos ritmos, ao propiciar o estabelecimento de uma lógica ao desconecto, um saber ao vivenciado, uma unidade ao fagmentário, uma certeza ao casual.
Em um sentido ampliado, em sua primeira exposição, interessa a Rosa as narrativas nascidas das sintonias emocionais indeléveis entre as formas do ser e do vivenciar, e aonde o espaço afetivado – e a processualidade representacional envolvida em seu outorgar - se conforma, ao fim, como uma ação criativa advinda das configurações abarcadas pela percepção dos sujeitos envolvidos nas relações com sua ambiência em acordos plurimodais entre o corpus, o pathos e o locus.
Caroline Gusmão
Período: 14 de maio a 26 de junho de 2009.