Do lado de cá, do lado de lá.

Eugenia França - 2017-04-04 - 2017-05-19


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A exposição Do lado de cá, do lado de lá é resultado do desdobramento da série intitulada Ausência Incrustada, de 2014, quando iniciei a minha pesquisa acerca de objetos descartados encontrados no meu trajeto cotidiano. A referência inicial se deu a partir de peças recolhidas por mim e registros fotográficos de manequins de fibra de vidro descartados por uma loja de restauro na região metropolitana de Belo Horizonte. O descarte era justificado porque os manequins eram obsoletos e não atendiam mais aos critérios exigidos pelo mercado e deveriam ser substituídos.

Na série 1,2,3 Salve Eu! recolhi e fotografei bonecas de plástico descartadas que serviram de motivo para a pintura, propondo discutir o lugar quase humano que ocuparam - como objeto de desejo e de cuidado - no qual crianças e adultos, na relação outrora estabelecida, davam a elas vida. Com o momento de ruptura dessa relação elas passam a ocupar o lugar de objeto de descarte, passando à condição de resto, causador de estranhamento e repulsa - uma vez que perderam a energia vital que lhes era depositada pelos seres humanos a quem estavam vinculadas.

Do lado de cá, do lado de lá é uma série em processo, resultado das minhas observações e reflexões acerca das relações aparentemente ingênuas entre crianças e suas bonecas - objetos de desejo – símbolo do adestramento, da dominação e da submissão feminina. Bonecas sujas, destruídas e despedaçadas me remetem a histórias que jamais serei capaz de conhecer ou conceber, como também, à possibilidade de quebra, esquartejamento e rompimento com padrões que moldam esse universo. Lonas de caminhão encontradas em caçambas passam a ser suporte para a pintura e sem nenhum tratamento mantém preservados seus vestígios, rastros e histórias que compõem este trabalho.

Minha pesquisa acerca de objetos descartados aos quais lanço meu olhar está, a meu ver, intimamente associada à busca de compreender e questionar as relações que estabelecemos com nós mesmos, com os outros e com os objetos na sociedade capitalista em que vivemos.

Eugênia França