Avulsas Inoportunas

Ropre AC - 2015-06-11 - 2015-07-24


- Atualizado em

Em “Avulsas inoportunas” vemos imagens como páginas de um diário que se soltaram e flutuam agora entre paredes,onde a artista se apresenta de frente em seus textos e desenhos, mas o observador precisa mudar sua forma de olhar. Nestas páginas a escrita dos textos é invertida (espelhada), como em matrizes de gravuras e, para ler sem dificuldades, é necessário utilizar espelhos e ficar de costas para as pinturas. Em toda sua pesquisa pictórica há a inserção de palavras como senhas direcionais para as imagens. Para estas dezessete pinturas as palavras estão ao extremo, formando textos, contando estórias. O figurativo que habita as composições são os mais cotidianos possíveis; são símbolos, linhas e rabiscos aleatórios. Segundo Nicolas Bourriaud, referência teórica para Alessandra Cunha, em seu livro Estética Relacional/2009, “...o artista chega a se apresentar como um universo de subjetivação em andamento, como o manequim de sua própria subjetividade, ele se torna o campo de experiências privilegiadas e o princípio sintético de sua obra numa evolução prefigurada por toda a história da modernidade”.

As imagens formulam-se a partir de manchas cinza disformes, entrepostas por linhas e desenhos executados na cor preta, soterrados por manchas azuis que ora cobrem, ora revelam informações em transparência. Há para cada pintura uma cor quente demarcando o espaço retangular pintado de branco, a fim de receber textos manuscritos em preto. Textos que deveriam ser secretos, pertencentes a relatos diários de cadernos lacrados por cadeados.“Um livro de artista é uma exposição portátil. Os livros de artistas são espaços de criação resultantes da pluralidade cultural, onde se exploram vários tipos de narrativas, são locais privilegiados para experiências plásticas, onde é possível fazer uso de várias linguagens poéticas (artes visuais, poesia, literatura...) somando e criando interligações de tempo e espaço, tempo e movimento, é um despertar de afetos.” (Constança Lucas/ 2014)

Alessandra Cunha.

Avulsas inoportunas – Release:

A Pinacoteca Universitária recebe a partir do dia 11.06.15 a exposição Avulsas Inoportunas, de Alessandra Cunha, jovem artista mineira. Trata-se de uma experiência pictórica iniciada com a criação de diários de tecidos, onde ela escreve e desenha o que surge no dia, cujo modo operante se baseia em instinto e sentimentos. Em certo momento decreta que as pinturas estão prontas, equilibradas, belas, e em seguida, as guarda por uns dias, dá outra olhada e sente que falta algo, falta estragar a imagem. Para esta série, depois de finalizadas, a forma de deformar consistiu em lançar sobre todas tinta azul, sem medo de ultrapassar os limites da imagem. Há a transparência que revela, tentando esconder todo o desabafo que as páginas descrevem. Coisas de artista, coisas de pessoa.

Desenhos calculados, desenhos ao acaso, avulsos. Inoportunas são as palavras, escritas ao inverso, que para serem lidas sem dificuldade precisa-se de um espelho, visualizando de forma familiar o texto. É necessário olhar o espelho para ler as frases em português, frases do dia a dia, pensamentos secretos como os que deveriam caber nos diários. Avulsas também são páginas que “se soltam dos cadernos” e adquirem dimensões de pinturas para parede: 17 páginas medindo 152 centímetros de altura e aproximadamente 92 centímetros de largura lotam-se de palavras e imagens compromissadas apenas com o desejo de carregar relatos cotidianos, pensamentos soltos e paisagens da alma.

Sobre a artista

Alessandra Cunha, que usa o nome artístico ROPRE, graduou-se em Artes Plásticas em 2010, na Universidade Federal de Uberlândia, cidade onde nasceu. Já participou de mais de 100 exposições coletivas nacionais e internacionais e cerca de 10 exposições individuais. Realiza uma vasta pesquisa acerca das artes urbanas, coordenando e participando de inúmeros eventos caracterizados como os “FREE ART FEST”. Atualmente, desenvolve imagens que permeiam as técnicas de pinturas contemporâneas e gravuras tradicionais em criações híbridas e contrastantes. Em Maceió apresenta uma série de imagens executadas com tinta acrílica sobre tecido sem chassis, em uma poética intimista.